segunda-feira, dezembro 26, 2005

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domingo, junho 12, 2005

Caro visitante

Eu perdi um tempo considerável de um fim de semana digitando tudo isso. Então seja bonzinho e deixe pelo menos um comentário avisando que passou por aqui.

domingo, junho 05, 2005

Prólogo

Tudo começou quando eu e o Renzo procurávamos uma alternativa barata para as nossas primeiras férias. No inicio pretendíamos fazer o caminho tradicional, pegando o Trem da Morte na divisa do Brasil com a Bolívia, mas a escassez do tempo nos levou a pegar um avião até Cochabamba, e de lá seguir de ônibus até Cusco, no Peru, onde poderíamos iniciar uma trilha até Machu Picchu.

Como o governo peruano passou a restringir o número de pessoas no famoso Caminho Inca (Uma das trilhas que leva até Machu Picchu), e não havia mais vagas até julho, resolvemos que iríamos chegar a Cusco o mais rápido possível e lá tentar conseguir as vagas de algum grupo desistente.

Depois de gastar saliva chamando um monte de gente, nosso grupo ficou com 5 pessoas: Além de mim e do Renzo, também foram a irmã dele (Lígia), o namorado (Da Lígia, não do Renzo-Anderson) e o Fernando.

Parte 1: A viagem

O início da jornada


Eu, o Renzo e o Fernando, ainda no aeroporto

Na manhã do dia 14/05, sábado, pegamos o avião em Guarulhos, com destino à Bolívia. Seis horas - e uma inusitada conexão no Paraguai - depois, chegávamos à gloriosa cidade de Cochabamba, na Bolívia. Já na decida do avião, o primeiro susto. O aeroporto de Cochabamba parecia um quartel militar, com soldados armados espalhados até pela pista de pouso. Sabíamos que a situação política na Bolívia estava delicada, mas não que estava nesse ponto.

Mas a segurança na entrada ao país se restringe aos militares vigiando o aeroporto. Ao passar pela imigração, entregamos nossos passaportes ao funcionário-carimbador-de-passaportes, que não checou nem foto nem nome. Apenas deu seu visto e nos mandou adiante. Nem pediu a carteirinha internacional de vacinação contra febre, que tanto trabalho tivemos para conseguir.

Como nosso objetivo era chegar a Cusco o mais rápido possível, procuramos um hotel bem barato para passar a noite e já na manhã de domingo seguimos de ônibus para La Paz.

Estando Cochabamba numa planície, a 2500 m de altitude, e La Paz já está no alto dos Andes, a 3600 m acima do nível do mar, nessa viagem começamos a sentir os primeiros sintomas do soroche, ou mal das alturas. Nada grave: Apenas um pouco de dor de cabeça, facilmente eliminada com um simples controle da respiração e evitando-se movimentos exagerados.

Por volta da hora do almoço o ônibus parou numa pequena comunidade ao lado da estrada, onde todos os bolivianos do ônibus, incluindo o motorista e seus ajudantes, desceram em busca da gororoba não-identificável da foto abaixo. Só deu pra ver que se tratavam de pedaços de carne cozidos num tacho de metal. A vendedora, uma simpática senhora com feições indígenas, servia a todos recolhendo os pedaços escolhidos pelos clientes com as próprias mãos e colocando-os num saco plástico. Se o cliente queria um naco de pele que estava lá no fundo do tacho, não era problema. Bastava enfiar os braços até o cotovelo no meio dos restos mortais do pobre bicho, dar uma remexida, tirar o pedaço desejado e no final dar aquela lambida nas mãos gordurentas. Às vezes algum cliente se exaltava e pegava ele mesmo o que queria, com suas mãozinhas limpas de viajante de ônibus.

15 minutos depois e embarcam novamente todos os nossos companheiros, cada um trazendo seu perfumado saquinho de carne cozida, para ser apreciado durante a viagem.


O almoço dos viajantes bolívianos

Oito horas depos de sair de Cochabamba chegamos a La Paz.

La Paz

A primeira observação sobre La Paz é que ela não faz jus ao nome. Aquilo é um inferno. O trânsito é caótico. Assusta até paulistano. Todas as ruas são de mão dupla, ou pelo menos são assim na prática. Pára-se em qualquer lugar da rua, em qualquer posição e a qualquer momento. Faixas de pedestre, não há. Atravesse a rua por sua conta e risco.



La Paz

E tem as buzinas! Buzina-se por todo e qualquer motivo, e a todo instante. Vi um motorista passar buzinando por uma rua praticamente deserta, a noite. Os taxistas são os principais contribuintes para essa poluição sonora, já que praticamente nenhum deles possui ponto fixo e passam o dia rodando as ruas da cidade, caçando passageiros. Qualquer criatura caminhando sobre uma calçada é um potencial cliente e recebe chamados sonoros de todos os taxistas nas redondezas. Felizmente os brasileiros ainda não exportaram para a Bolívia a moda das buzinas com som de berro de boi.

Em La Paz ficamos no Hostel Estrella Andina. Excelente local, no centro da cidade, próximo da rodoviária (Nosso objetivo também era ficar apenas uma noite). O preço era um pouco salgado, em comparação ao resto do país: 10 dólares por pessoa, mas valeu a pena.


Hostel Estrella Andina

Em La Paz surge o primeiro problema devido à instabilidade política do país: Manifestantes estavam fechando as estradas que ligam a cidade ao interior e os horários dos ônibus foram antecipados para evitar os bloqueios. Mais uma vez acordamos às 4 da manhã (Que férias!) e fomos até a rodoviária, pegar nossa condução para Cusco.

Antes do ônibus sair já rolou o primeiro estresse com um grupo de alemães, pois a agência de viagens tinha vendido a mesma poltrona para várias pessoas. Depois de uma pequena discussão, onde ninguém entendia ninguém, mudei de lugar. Por uma incrível coincidência, sentei ao lado de um colombiano que voltava do Brasil. Mais precisamente de Carmo da Cachoeira, sul de MG. Ou seja, praticamente meu ex-vizinho! Assim, ganhei um guia grátis durante a viagem.

A grande decepção com as viagens de ônibus na Bolívia e no Peru é que os ônibus eram absolutamente normais. Nada das míticas cabras e galinhas sendo transportadas no meio dos passageiros. No máximo umas famílias de camponeses que viajavam nos compartimentos de bagagens. Mas isso acontece no Brasil também. Aliás, os ônibus eram exatamente iguais aos interestaduais brasileiros. Tinham até banheiro. Com um providencial aviso colado na porta: "Apenas para urinar".

Claro, não havia cabras para empestear o ambiente, mas havia os alemães, que as substituíram com louvor. Esses não deviam tomar banho desde que saíram da Europa.Tinha um dormindo ao meu lado, no corredor, pois tinha ficado sem assento na briga pelas poltronas. Esse fedia! Cada vez que o cara se mexia subia aquele futum infernal.

Cerca de 1 hora depois de sair de La Paz chegamos ao Titicaca. De longe é lindo: Um mar azul de água doce, a 3500 m de altitude. Mas de perto percebe-se o quanto é sujo, principalmente perto das regiões povoadas, onde a água é coberta de espuma e de animais mortos.


Titicaca, já no Peru: O maior esgoto a céu aberto do mundo

Durante o caminho meu guia tirou um saco de folhas de coca da bolsa e começou a aula. Para se conseguir o efeito desejado (Eliminar o soroche, que fique bem claro. Eles ficam realmente bravos quando se associa a planta sagrada deles à cocaína), deve-se mascar o equivalente a uma mão cheia de folhas. Aos poucos, claro. Tem-se que formar uma pequena bolota de folhas mascadas no canto da boca e deixar o suco escorrer. Aí entra a parte viajante da história: O caldo da folha atravessa uns "canais" sobre a língua e é enviado a todo o corpo, onde "desestrutura" alguma coisa dentro das células, eliminando as impurezas e, de bandeja, o soroche. E esse era apenas o efeito físico da folha! Ainda havia o efeito psicológico e o emocional. Mas o ônibus parou na fronteira com o Peru e foi o fim da explicação.


As folhinhas de coca

Na fronteira, passamos pela imigração bolíviana para registrar a saída do país, atravessamos uma ponte a pé e já estávamos no Peru. Passamos pela imigração peruana para conseguir o visto de entrada. Mais uma vez, apenas os passaportes são carimbados e ninguém pediu a maldita carteirinha de vacinação.

Ali mesmo trocamos dinheiro pela melhor cotação da viagem (1 Dólar = 3,25 Soles) e experimentamos a famosa Inka-Cola, o refrigerante oficial do Peru.


Inka Cola: A cor é de urina e o rótulo ainda diz que é "O Sabor do Peru"

Seguimos viagem, passando por cidadezinhas que pareciam mais ruínas. As casas não tinham nem reboco nem pintura, limitando-se a paredes de tijolos e um teto de metal, que deve transformar cada sala de estar numa sucursal do inferno, com aquele sol batendo ali o dia inteiro. O povo ali é realmente muito pobre. Não vi mais que 3 ou 4 casas pintadas durante toda a viagem.

Dá pra saber em que região do país se está pelos outdoors de cerveja à beira das estradas. Parece que gostam de batizar as cervejas com o nome da região onde é fabricada. No fim do dia um cartaz da Cusqueña anunciava que estávamos próximos do nosso destino.

Parte 2: Cusco

Doze horas depois de sair da rodoviária de La Paz chagávamos a Cusco. Na rodoviária sofremos nossas primeiras tentativas de assalto na viagem. Um cara tentou abrir a bolsa da Lígia e tentou levar a bolsa de um casal de brasileiros que conhecemos na viagem. Não levou nada, mas conseguiu escapar.

Pegamos um táxi até a famosa "Plaza de Armas", no coração de Cusco, para procurar um hotel. No caminho o taxista não parava de tentar empurrar um hotel conhecido por ele.Descemos na praça, fizemos uma pesquisa de preços e decidimos ficar no "Hostel Oblitas", na rua Plateros, a 100 m da praça. Pagamos 70 soles diários por um quarto para 3 pessoas.

Saímos para jantar. Primeiro fato triste para os brasileiros: Só existe uma marca de cerveja na região: Cusqueña. Os bares mais modernos ainda têm uma segunda marca, mas fica só nisso. Mas o pior: Praticamente não há cerveja gelada em Cusco! Mesmo nos dias mais quentes, só se bebe à temperatura ambiente. Quando usam geladeira, deixam-na regulada para esfriar o mínimo possível. E o preço é um absurdo: 12 Soles (Quase R$ 10) por uma garrafa de 1 litro. Dizem que a culpa é da falta de concorrência, mas no meio da trilha pra Machu Pìcchu, onde a única maneira da cerveja ser transportada era no lombo de cavalos, encontramos a mesma Cusqueña por 6 soles. E ali na cidade, a menos de 1 km da cervejaria, custava o dobro.

Mas Cusco é uma cidade impressionante. A região da Plaza de Armas é linda. Cusco significa "O umbigo do mundo" (Qosco), pois era a capital do império Inca e ligava as 4 grandes regiões do território deles. Nessa praça ficavam os palácios dos incas, mas foram todos destruídos pelos espanhóis, que os substituíram por igrejas ou mansões para os VIPs da época. Ao redor da praça ainda existem casarões do período colonial, todos eles ocupados por empreendimentos comerciais, como bares, restaurantes e agências de turismo. Na verdade pela cidade inteira ainda há muitas casas dessa época, mas só aquelas ao redor da praça são conservadas. Muitas casas, devido à sua arquitetura pitoresca e tamanho exagerado, se tornaram uma espécie de cortiço comercial. Você entra por uma portinha e descobre um mundo de lojinhas, cada uma ocupando um cômodo da antiga residência.



A Plaza de Armas de Cusco

No centro de Cusco, tudo é muito bem conservado, limpo e iluminado. De cara resolvemos mudar nosso cronograma e passar mais tempo aqui. E realmente Cusco tem uma estrutura turística invejável. Há muita coisa pra se ver e fazer ali.

Aqui, assim como na Bolívia, os táxis continuam sem ponto fixo, sempre rodando pelas ruas a procura de passageiros. A diferença é que eles não buzinam, pois há placas ao redor da Plaza de Armas proibindo isto. Como há muitas ruas bem estreitas, a maioria dos táxis se parece com um carrinho de Playmobil (Na foto acima).

Uma coisa que chega a irritar em Cusco é que você não pode dar 2 passos sem que alguém venha te oferecer alguma coisa. São vendedores oferecendo comida, cartões postais, artesanato, cigarros, drogas, mulheres... Enfim, tudo. Os restaurantes contratam gente para ficar à porta cooptando turistas. Os funcionários das agências de turismo praticamente te empurram pra dentro se você parar para olhar seus folhetos. A partir do segundo dia já é automático dizer "No, no, gracias" para qualquer um que se aproxime.

Na Plaza de Armas estão as principais agências turísticas da cidade. Para se fazer a Trilha Inca hoje é obrigatório que se contrate uma agência local. O governo colocou diversos fiscais espalhados pela trilha verificando os turistas que passam. Se você não estiver acompanhado por uma agência, não pode prosseguir. Mais detalhes no final do texto, na parte sobre a trilha.


E, como nós não havíamos feito reserva, ficamos sem Caminho Inca para Machu Picchu. Claro, ainda poderíamos ir de trem, mas não teria a menor graça. Outra alternativa seria ir de helicóptero, mas obviamente isso não estava dentro das nossas posses. Por sorte o Renzo tinha levado o telefone da agência da Marisol, a agência mais bem recomendada de todos os fóruns online que participamos. Marcamos um encontro com ela e o seu companheiro Saul no nosso hotel. Eles vieram e nos ofereceram duas alternativas: Uma meio chatinha, caminhando ao lado de uma rodovia, e a quase-tão-famosa Trilha do Salkantay.

Por fim, fechamos com a trilha passando pelo monte Salkantay e saímos na quarta-feira, dia 18, para uma jornada de 5 dias em meio a neve e selva, para chegar à cidade perdida de Machu Picchu. A descrição dessa parte da viagem está no final, para aqueles que só queriam saber da trilha.

Mas Cusco tem diversas atrações além de Machu Picchu. A cidadela no meio das montanhas é apenas a mais famosa, mas existem diversas outras ruínas ao redor da cidade, além de museus e prédios históricos. E, claro, a noite cusqueña, que é provavelmente a melhor que eu já conheci.

A Noite de Cusco

À noite o ambiente da Plaza de Armas muda completamente. As agências de viagem fecham suas portas e os bares abrem as suas. Cada bar coloca nas ruas uma equipe de promotores incumbidos de botar para dentro do estabelecimento a maior quantidade de estrangeiros possível. Com a concorrência nenhum bar cobra entrada ("Bar" aqui está no sentido paulista da palavra, que é bem diferente do sentido mineiro. Aqui se trata de um local fechado, cujo interior não pode ser visto do lado de fora, e que geralmente tem uma pista de dança com DJ, além de outros ambientes) e ainda oferece um drinque grátis. Obviamente o tal free-drink nunca passa de um copo de refrigerante com uma leve carga de álcool. Nada que fique muito caro ao bar, já que a maioria deles nunca enche. Os estrangeiros passam ali apenas para pegar sua bebida grátis e logo caem fora, em busca de um local mais agitado. Pelo menos foi isso que os brasileiros fizeram todas as noites.



Eu e o Fernando no meio de uns Irlandeses pirados

E ser brasileiro em Cusco tem muitas vantagens. Andar com uma camisa da seleção brasileira ali, a noite, equivale a passear de Ferrari em SP. Todo mundo te trata com uma dose extra de simpatia (Embora os peruanos já sejam naturalmente bastante simpáticos). Todo mundo vem com o tradicional "Brassil, Brassil! Ronaldo! Ronaldo". O sucesso dos brasileiros é tanto que cheguei a encontrar outros estrangeiros que se passavam por brasileiros, mas não conseguiam pronunciair mais que um "Obrigado" com sotaque carregado. Só que esse tratamento diferenciado dos brasileiros tem seu lado ruim. Por estar ligado a um estereótipo, te tratam bem se o que querem de você é animação. Já se querem dinheiro, não perdem tempo ao seu lado. Um vendedor de cartões postais parou do meu lado, tentou mostrar seus produtos mas logo percebeu minha origem e foi embora dizendo "Brasileño? Ah, brasileños nunca compram nada".



Eu e o irlandês caçador de peruanas



Promotores dos bares disputando os turistas

Os principais bares na região da praça são:


Mama America: É o que mais enche. Geralmente as pessoas passam por todos os bares pra beber de graça e terminam sua noite lá. É o mais animado e, por isso, encerra a distribuição de free-drinks mais cedo, por volta da meia-noite. É também onde trabalha a barwoman mais gostosa de Cusco.


Mama Africa: Foi recomendado por uns brasileiros, mas foi uma decepção. Realmente é animado e rivaliza com o Mama America, já que ninguém aguenta ir ao mesmo lugar toda noite (Se não se gasta nada pra sair, pode-se sair todas as noites). O problema fica por conta das bebidas, que mesmo quando pagas, são tão diluídas em água que bebê-las é jogar dinheiro fora, além de serem bem mais caras que nos outros bares. 4 doses de vodca ali não fazem o efeito de meia cerveja. Pode-se comprovar observando o ambiente. Enquanto no Mama América sempre há algum bêbado caído nos sofás ou no banheiro, no Mama Africa ninguém se exalta. Uma dose de vodca custa 10 Soles. lá.

Mithology: De vez em quando consegue algum público, mas não dura muito. Vale entrar sóbrio para descobrir o que está enrolado na estátua no centro do bar.

Extreem e Cafetacuba: Estes dois são sinistros. São inferninhos disfarçados de bar. Como o país é muito católico, essas coisas sempre ficam bem escondidas, mas é só entrar, prestar atenção no ambiente ou conversar com as meninas que ficam dando sopa ali que logo se fica sabendo os preços e locais. Realmente vale a pena entrar só p/ beber seu free-drink mesmo e depois cair fora.

Kamikase: Fomos lá uma vez e parecia que estava rolando um Baile da Saudade com Francisco Petrônio. Como ainda não chegamos a terceira idade, foi a primeira e última vez que lá entramos.

El Muki: Os peruanos ainda usam a palavra "discoteca" para descrever esse tipo de lugar. Só abre nos finais de semana e também não cobra entrada, já que fica bem de frente ao Mama America. O ambiente é legal. As paredes imitam uma caverna. Mas só entrei uma vez e estava totalmente vazio.



Depois de 4 ou 5 free-drinks no Mama America

Comunicação com os nativos

Saí do Brasil sem falar uma única palavra em espanhol. Voltei falando umas 5 ou 6, sendo metade delas palavrões. Mesmo assim não tive problema nenhum para entender bolivianos e peruanos. De maneira geral eles entendem muito bem o portunhol. É só trocar os sufixos das palavras de "ão" para "ión" (Como em "ligación), trocar uns "ch" por "ll" (Só alguns), falar com sotaque e usar uma linguagem mais rebuscada (Troque "piada" por "chiste", "ardido" por "picante" e por aí vai).

Cada país tem seu linguajar próprio e mesmo quem é fluente em espanhol dá seus tropeços. A Natália me deu umas dicas boas de palavrões, mas acho que só funcionam na Espanha. E depois ela ficou brava porque eu teria insinuado que ela não fala mexicanês. Então vamos deixar bem claro: Ela fala mexicanês, e provavelmente peruanês, bolivianês, cubês e todas as outras variações regionais do espanhol. :-)

No avião, antes mesmo de sair do Brasil, "alguns brasileiros" deram um pequeno vexame. A aeromoça começou a distribuir o almoço e informava o conteúdo do marmitex: Empanada de frango. "REPOLHO???", gritaram horrorizados os passageiros. "Não! Troca! Outra coisa!". Realmente é um perigo viajar 6 horas num avião fechado ao lado de alguém comendo repolho.

Alimentação

O prato mais comum em Cusco é o pollo (frango) com papas (batatas) fritas. Mas "papas fritas" por ser traduzido para "batatas cozidas em óleo". Não importa o quão caro seja o restaurante, as tais batatinhas vêm sempre transparentes de tanta gordura. Mas é barato. Mesmo nos arredores da Plaza de Armas um prato deste não custa mais que 5 Soles.

Um bom restaurante que achamos é Perkas Boer, na rua Plateros, quase em frente ao hostel Oblitas. Ali também funciona uma cervejaria e é um dos pouquíssimos lugares em Cusco a servir cerveja gelada. Uma caneca de 300 ml de cerveja da casa sai por 5 Soles. Uma refeição com entrada, prato principal e suco sai por 8 Soles (Menu econômico. Existem outros menus mais sofisticados). Recomendo o filé de alpaca. A noite os pratos são um pouco mais caros e mais elaborados, mas você ganha uma taça de vinho ou uma cerveja. E o ambiente é excelente. Só tome cuidado com o cacto que fica atrás da porta de entrada. Deve ser realmente perigoso, pois até colocaram uma placa de alerta em cima dele.



Cuidado!

No final do mês de maio acontece a festa de Corpus Christi e aí pudemos fazer uma imersão mais profunda na culinária peruana. As ruas da cidade ficam tomadas por pessoas e barracas vendendo todo tipo de comida.



A Plaza de Armas lotada no Corpus Christi

Uma das principais comidas típicas da região é o "cuy al horno". Cuy, o nosso simpático porquinho-da-Índia. Sim, eles comem porquinho-da-Índia! Criam os bichinhos dentro de casa mesmo, soltos como qualquer animal de estimação. E, quando dá vontade, vão lá e comem os pobrezinhos. Na quermesse de Corpus Christi ainda fazem pratos enfeitados para chamar a atenção.



Festa de casamento: O cuy e o pollo.

Obviamente eu não poderia deixar de experimentar uma coisa dessas. Só que num restaurante, claro. Pra não arriscar a passar o resto da viagem me lamentando no banheiro.



O cuy al horno

Confesso que bateu um arrependimento assim que o garçom despontou da cozinha com o prato na mão. Quando a refeição chegou e foi colocada à minha frente, as pessoas ao redor ficaram horrorizadas. Não as pessoas da mesa, mas o restaurante inteiro. Uma mesa cheia de moças européias atrás de mim ficou em silêncio. Meu Deus! As batatas vêm com casca! Que coisa nojenta! Ah,mas que droga. Eu já iria comer um rato mesmo! Que importava se as batatas estavam descascadas ou não?

O cuy al horno custa entre 30 e 40 soles. É um dos pratos mais caros em Cusco. E, sinceramente, não vale a pena. Um bichinho desses não tem quase nada de carne. O prato voltou quase do mesmo jeito que chegou. Só deu p/ chupar os ossinhos das pernas mesmo.



Quase que ele escapa

Preços

Não existe um sistema de preços nem na Bolívia nem no Peru. Principalmente nos lugares turísticos, o preço das coisas depende da cara do freguês. Se você entrar numa loja 3 vezes no mesmo dia pode ouvir 3 preços diferentes para uma mesma mercadoria. E tudo é negociável. Pechinchar faz parte da cultura destes povos.

Pontos Turísticos em Cusco

Machu Picchu é a atração turística mais famosa da região de Cusco, mas existem dezenas de outros pontos de interesse histórico. Ao redor de Cusco há diversos pontos arqueológicos, como o Vale Sagrado e Saqsayhuaman (Que os gringos pronunciam "Sexy Woman"). Há também diversos museus, igrejas e monumentos. Sem falar da própria arquitetura da cidade, cheia de casas do período colonial e ruas de pedra.

A prefeitura vende um bilhete turístico por 70 Soles (35 para estudantes com menos de 27 anos) que dá direito a visitar 16 pontos turísticos. Realmente é barato, visto que a maioria dos locais cobra uma entrada de 10 Soles. O problema é que o boleto não inclui os lugares mais interessantes, como o Museu Inca.

Um dos pontos que o boleto abrange é o Museu de Santa Catalina, instalado num convento ainda em atividade. 15 freirinhas ainda vivem lá. Na verdade esse é o único local do circuito que eu visitei, pois não comprei o boleto, mas o porteiro ficou com tanta pena de mim quando meus amigos entraram e eu fiquei na porta, que acabou me deixando entrar de graça (Não se vende ingresso. A entrada só é permitida aos portadores do boleto). O acervo do museu é composto basicamente de arte sacra, com umas imagens religiosas bem macabras. A maioria das pinturas e esculturas vem da Escola Cusquenã de Arte, um estilo que mostra bem o sincretismo religioso dos cusquenhos durante o domínio espanhol. Nas pinturas de tema católico ainda se vê o sol e a lua retratando a religião andina. Na imagem da Santa Ceia vê-se Jesus a frente de um porquinho-da-Índia assado! E nas pinturas que representam o martírio de cristo pode-se ver claramente que os soldados romanos são, na verdade, soldados espanhóis.

Outro museu legal é o Museu Inca. Ali pode-se acompanhar toda a história do povo governado pelos Incas (Apenas os líderes eram chamados de Incas e foram 12), desde antes do início do império até a dominação pelos espanhóis. Há diversos guias no pátio do museu. Teoricamente o serviço é gratuito, já que você pagou a entrada. Mas se esquecer de dar uma gorjetinha ao final da explicação, eles vão cobrar na cara dura.

Todas as igrejas ficam fechadas durante o dia e cobram entrada dos turistas. Mas você pode visitá-las de maneira discreta de manhã, durante os cultos, sem pagar nada. Minha mãe ficaria orgulhosa de mim se me visse acordando às 7h00 para ir à missa na catedral de Cusco. E valeu a pena. É até mais impressionante ver a igreja durante o horário de funcionamento.

Praticamente tudo o que os incas haviam construído em Cusco foi destruído pelos espanhóis. As únicas construções remanescentes são as fundações de alguns prédios. Embora os espanhóis pretendessem destruir a cultura e a religião daquele povo, eles sabiam reconhecer uma boa obra de engenharia civil. Em algumas ruas ainda é possível encontrar estes vestígios, inclusive a famosa pedra de 12 ângulos, um pedaço de rocha talhado pelos incas para servir de fundação de uma construção, num encaixe bastante peculiar. E robusto, pois está lá até hoje.

Um local interessante para se visitar, comer e até se hospedar na cidade é o bairro de San Blas. Fica a uns 5 minutos da Plaza de Armas, seguindo por trás da catedral. Por estar um pouco afastado do centro turístico, as coisas são mais barato.

Um ponto turístico alternativo: O Mercado Central. Ali sem você se integra realmente ao povo cusqueno. Comida de todo tipo, carne exposta no meio dos corredores, frangos sendo abatidos na hora. Também é uma alternativa para quem perdeu o Mercado das Bruxas de La Paz. Veja abaixo:


Fetos de lhamas e poções mágicas à venda no mercadão

A Parte Triste: O Retorno

Depois de uma semana em Cusco acabou a moleza. Era hora de voltar p/ casa. Só que precisávamos pegar o avião em Cochabamba e a situação na Bolívia estava feia. Os bloqueios haviam se intensificado. Chegou-se a falar em golpe de estado, mas os militares foram à TV negar os rumores. Os manifestantes fecharam o acesso ao congresso, impedindo que os deputados fossem trabalhar (???). E nenhum ônibus saía mais de Cusco para lá. Resultado: Tivemos que raspar as economias e comprar mais uma passagem de avião, de Cusco a Cochabamba (USD 120,00). Como se apenas o fato de ir embora dali não fosse triste o suficiente.

Essa parte da viagem foi tão chata que eu nem vou escrever sobre ela. Mas tudo correu bem e, no dia 29, domingo, por volta das 22h00, estávamos de volta a SP. Todos cansados, já se preparando p/ recomeçar o trabalho no dia seguinte, mas também satisfeitos. E mudados. Ninguém volta com a mesma cabeça de uma viagem assim. Conhecemos muitos lugares novos, com um povo bem diferente do nosso. Conhecemos pessoas do mundo inteiro: Irlandeses, brasileiros, israelenses(Um monte! Cusco está infestado), uma americana, um(a)inglês(a) cujo sexo até agora é um mistério, nenhum argentino, uma mexicana... Ah, uma mexicana....

Mas no final do ano tem mais! Se você pretende ir p/ Cusco algum dia não se esqueça de me chamar!

Parte 3: Salkantay e Machu Picchu

Basicamente existem 3 maneiras de se chegar a Machu Picchu, e todas têm como ponto inicial a cidade de Cusco: De trem, pagando aproximadamente USD 82,00; de helicóptero (Nem vi o preço); ou fazendo alguma trilha.

A trilha mais famosa é o Caminho Inca, uma estradinha construída pelos incas através das montanhas. Este também é o único caminho que chega diretamente a Machu Picchu, por cima. Os outros terminam numa pequena cidade chamada Águas Calientes, que fica aos pés da montanha. Dali pode-se pegar um ônibus (USD 6,00) que sobe em uns 30 minutos, ou subir a pé, numa trilha bastante íngreme de 2 horas.

Desde 2001 o governo peruano proibiu turistas de viajar sozinhos pelo Caminho Inca. Agora é obrigatório que se contrate uma agência de turismo local, que vai fornecer um guia, um cozinheiro e carregadores para os equipamentos. Diversos postos de checagem foram colocados ao longo da trilha para verificar o cumprimento das novas regras. Também é necessário que se reserve a viagem com pelo menos 4 dias de antecedência e a reserva é pessoal e intransferível. Isso tudo é para evitar que as agências comprem todas as 500 vagas diárias e depois as revendam com ágio. Cada reserva custa USD 50,00 e as agências cobram entre 200 e 300 Dólares pelos 4 dias de trilha.

Como não havíamos feito reserva a tempo, tivemos que procurar uma trilha alternativa. A maioria das opções eram bem chatinhas. Trilhas que acompanhavam uma rodovia, por exemplo. Nossa única opção foi a trilha que passa pelo monte Salkantay. O problema é que é uma trilha bem mais dura que o Caminho Inca. São 5 dias, atingindo uma altitude de 4600 m acima do nível do mar (O Caminho Inca chega a 4200), passando por montanhas nevadas e selva tropical. Mas, como era a única alternativa, e já tínhamos pego umas dicas com nosso amigo Carlão Aventureiro e Montanhista, fechamos esta trilha com a agência da Marisol, a Amazin (Sem "G" mesmo), que é a agência mais bem recomendada nos fóruns de mochileiros. Esta trilha pode ser feita sem guia, mas é bem arriscado. Se você tiver muita experiência e muita cara de pau, pode seguir algum grupo.

Primeiro dia

Acordamos às 4 horas da manhã (Mais uma vez: Que férias!) para esperar o carro da Marisol que nos levaria até o ponto de saída. Mesmo sendo de madrugada as ruas da cidade estavam cheias de pessoas na mesma espera.



Fernando e eu. Esta é a última vez que vão me ver sorrir
nos próximos 3 dias

Pegamos um carro e fomos até o vilarejo de Mollepata, onde alugamos os cavalos para transportar os equipamentos. Nesta trilha não há carregadores, pois a subida é muito pesada. Tudo é transportado nos cavalos, com exceção das mochilas de ataque. Cada um leva a sua.

Depois de uma pequena avaliação das nossas aptidões físicas, eu e a Lígia resolvemos levar mais um cavalo, para uma eventual emergência. Custaria USD 10,00 por dia (Aproximadamente 32 Soles).

Em Mollepata encontramos muitos grupos que fariam o mesmo trajeto. Tinha até um grupo de brasileiros.

Por volta das 9 da manhã partimos em direção ao Salkantay. A paisagem do primeiro dia é bem chatinha. Caminhamos basicamente por uma estrada de terra. Não havia muito o que se ver. Mas a subida já era um pouco dura.



Salkantay no início da trilha: Chegaremos lá!

Paramos para almoçar ao lado de uma pequena casa de camponeses, por causa da água, que era encanada mas vinha de uma nascente. Primeira constatação: Apesar de a Marisol ter dito que era importantíssimo levar pastilhas para desinfetar a água antes de beber, nenhum dos cozinheiros fazia isso. Durante os 4 dias de caminhada nos foi servido Q-suco (quente) não-desinfetado.


Vai rolar bundalelê...

Depois do almoço caminhamos mais algumas horas até chegar ao local do acampamento, que ficava bem aos pés do Salkantay. Chegamos no finalzinho da tarde e já era bastante frio. Ainda era possível ver a grande montanha gelada e as outras menores ao nosso redor, o que já deixava uma preocupação quanto ao segundo dia. 2 pessoas chegaram ao acampamento, enfiaram-se dentro da barraca e só saíram na manhã seguinte, devido ao soroche.


Paisagem do primeiro acampamento

A primeira noite foi a mais fria. A temperatura chegou a 6 graus negativos durante a madrugada. Foi um sacrifício acordar 3 vezes de madrugada para ir ao banheiro. De manhã fiquei sabendo que ninguém conseguiu dormir a noite. Além do frio, estávamos acampados entre 2 grandes montanhas geladas. O barulho da neve se desprendendo a noite era assustador.

Segundo dia

Acordamos às 6h00. Recebemos um "té (chá) despertador", de coca. Não fez o menor efeito. Continuei com sono.

Por volta das 8h00 iniciamos aquela que seria a parte mais difícil de toda a trilha. Deveríamos subir cerca de 1000m em uma manhã. Foi bem puxado. Já no início eu comecei a passar mal. Não tinha dor de cabeça, mas o estômago estava muito mal. Subi uma parte a cavalo, revezando com a Lígia. Só que nem o cavalo agüentava subir tudo. Tínhamos que subir algumas partes a pé enquanto ele descansava. Não tenho fotos dessa parte porque não consegui nem carregar a câmera.

Por volta das 11h30 cheguei ao ponto máximo: 4635 m (Segundo nosso guia). Cheguei atrasado e quase vomitando as tripas. Encontrei o pessoal do meu grupo, todos já descansados e prontos p/ sair. Eu parecia um zumbi. Ainda bem que tirei algumas fotos ali, senão nem me lembraria.



4635 masl: 100m atrás de nós, o Salkantay

Cinco minutos depois de chegar e já estávamos de partida. Dali até o fim do dia seria apenas descida. Com 1h de caminhada paramos para almoçar. Praticamente nem comi, mas tirei um cochilo de quase 1h que recuperou meu estômago.



Renzo fazendo pose na descida

Logo reiniciamos a descida. Eu pensava que descer seria fácil. Que inocente! 4 horas montanha abaixo no meio daquelas pedras destroem qualquer joelho. A cada pisada parecia que eu levava uma martelada nas rótulas- Ou patelas, se você preferir.



Descidinha destruidora de joelhos

Por volta das 4 da tarde já estávamos caminhando no meio da floresta tropical. Ainda era uma descida dura, mas já não fazia frio.



Fernando na selva

Por volta das 18h00 chegamos ao acampamento. Era um pequeníssimo povoado, bem no caminho da trilha. Todos os grupos se juntaram para acampar ali. Algumas famílias mantinham uns botequinhos ali, no meio do mato. Por incrível que pareça a cerveja ali custava a metade do preço da cidade.

Ali fiquei sabendo que os brasileiros que encontramos no primeiro dia não agüentaram o tranco da subida de manhã e voltaram para Cusco. Franguinhas! Até eu totalmente sedentário consegui subir aquele morrinho de nada!



Acampamento do segundo dia

Tinha até um "banheiro" feito de troncos e pedaços de lona. Uma maravilha! Não tinha porta nem teto. Você podia entrar lá e ficar olhando as estrelas enquanto fazia o serviço. E tinha que levar a lanterna pra sinalizar que o local estava sendo utilizado sempre que alguém se aproximasse.



Toilette

Terceiro dia

O terceiro dia tem a paisagem mais bonita de todas. Ou, pelo menos, nesse dia se está consciente o suficiente para admirá-la. Agora estamos a menos de 2000 m de altitude. Dá pra caminhar com desenvoltura. Ainda bem, pois a trilha segue margeando uns precipícios bem assustadores.


Ponte na saída do acampamento

Não há muito o que se falar deste dia. Veja as fotos.



Ainda amanhecendo.



Blusa de lã, calça cargo e chapéu: O visual Hi-lo faz sucesso nas montanhas



Apenas mais uma cachoeira...



Renzo estourou os joelhinhos no dia anterior e teve que subir no cavalo.



A trilha



Atravessando um rio sobre troncos

Por volta das 15h00 chegamos a um vilarejo. A criançada corria à nossa volta, pedindo bala. Se eu soubesse disso teria levado um saco p/ distribuir. Ali pegamos nosso transporte até o local onde passaríamos a noite: O vilarejo de Santa Tereza. Pode parecer estranho pegar um caminhão quando se faz uma trilha, mas nessa altura todo mundo estava destruído e não teríamos mais os cavalos. Todo o nosso equipamento estava por nossa conta.

Ali pagamos o aluguel do cavalo. O que deveria custar por volta de 90 Soles (3 dias a 32 Soles cada) ficou por 150 Soles. Apenas mais uma exploração de turistas. Reclame ao bispo. E ainda tivemos que dar, "voluntariamente", gorjeta ao dono do cavalo que nos acompanhou.



Tive que sair do Brasil pra poder andar de pau-de-arara

Agora sim a viagem estava ficando emocionante. Descer aquelas encostas a pé não era nada. Divertido era descer num pau-de-arara cheio de pessoas e caixas de granadilha (Uma fruta da região). A cada parada mais pessoas saltavam p/ dentro do caminhão.

No fim da tarde chegamos ao vilarejo de Santa Tereza. O guia pretendia nos levar a Hot Springs, um local com piscinas de águas naturalmente aquecidas. Apenas uma caminhada de 40 minutos. Mas apareceu um garoto oferecendo banho de chuveiro por 2 Soles e 5 minutos de caminhada. Deixamos Hot Springs para a próxima viagem e fomos para o hotel. Apenas para o banho, porque ainda passaríamos mais uma noite nas barracas. No hotel conhecemos ainda 2 irlandeses totalmente perdidos e com um espanhol ainda pior que o meu. Com isso nosso grupo cresceu na volta às noites cusquenhas.



Uma moradora de Santa Tereza

Nessa noite acampamos num campo de futebol, bem ao lado do bar de uns amigos do nosso guia. Foi a noite mais divertida da trilha. Jantamos lá e conhecemos umas pessoas da cidade. Até aprendi algumas palavras em quéchua. Os locais me ensinavam umas frases e eu repetia para a dona do bar, sem ter a menor noção do que estava falando. Apenas repetia o som. Pela maneira como ela me tratou no dia seguinte, acredito que só me ensinaram coisas boas. Pena que não lembro de nada.



O bar da Señorita Fátima (Ela está ao fundo, à direita)

Quarto dia

Neste dia pudemos dormir até mais tarde. Ainda bem. Depois de ficar até de madrugada no bar eu precisava de umas boas horas de sono. E de bastante água.

Por volta das 9h00 saímos de Santa Tereza e passamos pela cidade antiga. O vilarejo onde passamos a noite ainda está em construção, no alto de uma montanha. A cidade original ficava bem abaixo, às margens do rio Urubamba e foi destruída numa inundação há uns 3 anos atrás. Na foto abaixo podem-se ver as ruínas.



As ruínas da velha Santa Tereza

Para cruzar o Urubamba, mais diversão: A travessia é feita por cabo, numa espécie de tirolesa com banco.



Atravessando o rio

Depois de atravessar o rio caminhamos por mais uns 40 minutos até o ponto onde pegaríamos outro transporte. E logo chegou mais um pau-de-arara.


Ah, o conforto e a tranqüilidade de se viajar durante as férias...

Mais 15 minutos no lombo do caminhão e... Não, não chegamos a lugar nenhum. Ele quebrou! O caminhão quebrou e nos deixou na mão, no meio da estrada. Deu dó do nosso cozinheiro, que carregou todo o equipamento de cozinha (panelas, fogão, botijão, etc) nas costas. Pensando bem não deu dó não! O cara ainda chegou antes de mim. Eu quase morri prá levar 2 mochilas e, quando cheguei ao final, o almoço já estava pronto.


Pelo menos pudemos apreciar um pouco mais a paisagem. Passamos por uma montanha de pedra onde um rio subterrâneo saí por debaixo da estrada. Simplesmente incrível! Está nas próxima foto:


A água passa por dentro da montanha e saí debaixo das pedras. O barulho é impressionante.

Por volta das 12h00 passamos pela estação hidroelétrica e alguns minutos depois chegamos ao nosso destino: A estação de trem, onde almoçamos e aguardamos o trem para Águas Calientes.


Trem para Águas Calientes

A viagem de trem durou pouco mais de 1 hora. Foi bem interessante. Passamos pelo vale bem abaixo das ruínas de Machu Picchu e já pudemos ver algumas pedras.


Campanha do governo peruano

No fim do dia chegamos a Águas Calientes. Como o nome indica, lá também há piscinas térmicas, só que não são gratuitas como em Santa Tereza. Fomos para o hotel, o pior de toda a viagem. Primeiro não havia água, depois só havia água fria (E a temperatura da cidade não é das mais quentes). Quando se abria a torneira do chuveiro a água saia pela pia. Quando finalmente conseguimos fazer o chuveiro funcionar, ele inundou o banheiro e o quarto também. Tínhamos que andar de botas. Na hora de dormir, descobrimos que as camas estavam cheias de cabelos. Claro, ninguém fica mais que uma noite nesses hotéis. Todo mundo está ali apenas para passar a noite e ir a Machu Pìcchu no dia seguinte. Até parece que eles iriam trocar a roupa de cama todos os dias. Mas a Marisol garantiu que não vai mais colocar ninguém naquele hotel.

Quinto dia: Machu Picchu, finalmente

Mais uma vez acordamos às 4h00. Queríamos ver o nascer do sol em Machu Picchu. Como ninguém tinha mais joelho prá escalar montanhas de madrugada, pegamos o primeiro ônibus para as ruínas, às 6h00. A viagem leva aproximadamente 30 minutos.

Chegamos um pouco tristes a Machu Picchu, pois estava nublado. Não conseguiríamos ver o sol nascendo. Mas logo a visão da cidadela mudou os ânimos de todo mundo. Como todos falam, não importa a expectativa que você tenha, aquilo lá sempre impressiona.



A visão de Machu Picchu ao chegar

Fomos os primeiros a chegar às ruínas. Chegamos antes mesmo do pessoal que faz o Caminho Inca. Aproveitamos o tempo sozinhos para pegar umas explicações sobre as ruínas com nosso guia.

Machu Picchu é, na verdade, o nome da montanha onde a cidadela foi construída. O verdadeiro nome da cidade ninguém sabe. Machu Picchu significa "Montanha Velha", na antiga língua dos incas. A montanha que está ao fundo na última foto é chamada de "Montanha Nova", também em quéchua. Isso não significa que ela seja mais nova que a outra. Não aconteceu de os incas acordarem numa manhã e encontrarem uma montanha nova nos seu quintal. O que aconteceu é que eles gostavam muito dessa idéia de dualidade (Sol e lua, positivo e negativo, novo e velho) e sempre mantinham este conceito em tudo o que faziam.



Perdemos o nascer do sol, mas ganhamos outras

imagens interessantes

Outra coisa impressionante: De Machu Picchu é possível ver o Salkantay, bem distante. Não dava pra acreditar que tínhamos vindo de lá. Ou melhor, tínhamos vindo de mais longe ainda e passamos por lá. Foram 55 km em 5 dias.


O Salkantay lááááá no fundo.



Provavelmente essa é a saída do túnel que vem lá de São Tomé das Letras.



Hoje os únicos moradores de Machu Picchu são as lhamas.



Mais pedras, mais neblina.

Por volta das 10h00 nosso guia nos deixou e voltou à cidade para comprar as passagens de trem para Cusco. Ficamos livres para passear pelas ruínas. A essa altura o pessoal do Caminho Inca já tinha chegado, por cima das montanhas, através do Portal do Sol (O local onde o sol nasce em Machu Picchu) e a cidade estava inundada de pessoas. Tinha gente do mundo inteiro andando por aqueles corredores estreitos de pedra. Resolvemos tirar aquela foto clássica da cidadela, com as montanhas ao fundo formando o rosto de um inca. O melhor ângulo para essa foto é justamente o Portal do Sol, ou Intipunku. Então, enfrentamos mais 40 minutos de subida até a próxima montanha.



O Portal do Sol

A decepção: Aquela imagem tão famosa de Machu Picchu é uma farsa! Aquela paisagem não existe. Ou melhor, não existe da forma como foi retratada. Pode-se sim ver um rosto, mas é preciso um certo esforço e muita boa vontade. A foto que roda pela Internet se aproveita de uma posição de luzes extremamente favorável e de uma edição no Photoshop extremamente desleal.



A imagem verdadeira...



...e a imagem que passou pelo Photoshop


E esse foi o fim da trilha. Continuamos em Machu Picchu até por volta de 12h00. Já havíamos conhecido todos os setores da cidade, mas ficamos sentados numa montanha admirando as ruínas. Afinal, foram 5 dias de caminhada pesada para chegar ali. E valeu a pena. No fim do dia pegamos o trem e voltamos a Cusco.